Hoje escrevo
sobre um sentimento comum a muita gente, neste momento da história do mundo, e que
foi brutalmente intensificado em mim na semana passada: o luto.
Muitas perdas em
pouco tempo e todas com significados diferentes. Mecanismos e processos diferentes
que foi (está a ser) necessário pôr em movimento. A forma como nos despedimos
de um amigo da nossa idade, é diferente da forma como nos despedimos de um pai,
e de um avô. E de alguém que representa partes de todas estas figuras (e mais
algumas…). Não sei como me despedi de nenhum deles. Lembro-me das últimas vezes
que os vi. Achei que estaria mais preparado para a morte de uns do que de
outros e percebo hoje que não é possível qualquer preparação.
Aprendi até hoje,
com o meu estudo e com o meu trabalho, que o luto é um processo lento, complexo
e que tanto pode correr bem como correr mal… Também sei que implica um
desinvestimento de “tudo” o que nos liga(va) à pessoa que perdemos e que esse
“tudo” (correndo bem) fica livre para ser ligado a outras pessoas/coisas. E que
faz bem falar, pensar, sonhar, escrever…
Na semana
passada não me pude despedir como gostaria. Restrições derivadas do estado de
emergência e agravadas pelos dias de Páscoa. Uma despedida rápida, sem tempo
com os amigos que gostariam de ter estado presentes. Curiosamente acabei por
sentir que estiveram e compreendi que as coisas que se estudam são mesmo
verdadeiras. O conforto nas palavras dos outros, na identificação com dores
parecidas daqueles que também passaram por isto e ainda na empatia genuína de
todos os outros que “apenas” sentiram comigo. Se temos apoio de “almofadas
especiais”, a dor é claramente mais suportável.
A ideia de “nunca
mais” é demasiada para a nossa compreensão. É uma “sobrepalavra”, intensa,
carregada, excessiva. É da ordem do infinito e da incomensurabilidade. Tão
grande que os olhos não a conseguem ver. Tão complexa que o pensamento não a
pode elaborar. No entanto os lutos fazem-se… Como? Com tempo, com conversas, com
histórias (lembradas, contadas), com pensamentos, com sonhos, com escritas, com
pessoas especiais, com encontros A palavra certa parece mesmo ser: com…
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