E agora? Agora?
Não sei…
Uma das
tendências “normais” no ser humano é procurar doses confortáveis de controlo e
previsibilidade sobre várias dimensões das nossas vidas. Desde a previsão
meteorológica do dia seguinte, à rentabilidade do investimento financeiro a 5
anos. A garantia de que a realidade é controlada e previsível é essencial e vivida
com plena satisfação por muitos de nós, sem que para isso tenhamos de exibir
características de personalidade obsessivo-compulsiva.
E se a
previsibilidade e o controlo ficam mais em risco, é sempre possível criar
simulações dessas condições através de mecanismos vários, como rever filmes
cujo enredo/final já se conhece ou amealhar embalagens XL de papel higiénico.
São meras simulações, mas suficientemente convincentes para que muitos de nós
as adoptemos.
Quando se
instala um estado de incerteza absoluta como o que vivemos actualmente, não há
memórias que nos guiem nem desejos onde nos possamos projectar. Gerar
mecanismos de simulação deixa de ser uma estratégia eficaz, perante a imposição
“crua” da realidade, e todos os mecanismos de defesa habitualmente funcionais,
passam a ser vividos como um ataque à capacidade de pensar.
Assim, a
experiência de medo, dúvida constante, ansiedade aguda e outras manifestações
de desorganização emocional, tenderão a ser agidas, ou num polo depressivo
(que, no limite leva ao desespero) ou num polo maníaco (que tende para
esperança messiânica – pensamento delirante/mágico, crenças exotéricas). Em
ambos os polos, a capacidade de pensar dá lugar a uma “certeza absoluta”, seja
ela da ordem da tragédia ou do milagre (distorção da realidade e da
racionalidade/razoabilidade/discernimento).
Relembro um
conselho comum, cuja origem desconheço e que diz: quando não sei o que fazer,
não faço nada. Assim como um complemento possível para este conselho: em muitas
situações, não fazer nada pode ser fazer alguma coisa. Não servindo como “lema
de vida”, é verdade em certos momentos…
E neste momento?
Fará sentido pensar assim? Com a inquietação vivida pela total perda de
controlo e previsibilidade sobre o mundo, há que esperar. E também observar,
analisar e confiar (naqueles que investigam e naqueles que tratam).
Sentir a
impotência de não poder agir é tão ou mais difícil que aguentar um longo
período de “não saber”. No entanto, “andar só por andar” não faz sentido (pobre
do caminhante que, perdido na montanha, corre em todas as direcções e não pára
para observar e analisar o terreno. Ou cai de exaustão ou precipita-se no
abismo escondido).
E quando volta
“o mundo a abrir”? Não sei! Quando for mais seguro… e importa chegar a esse tempo
mantendo a capacidade de pensar, a vontade de estar com e de sentir os outros,
e a responsabilidade de (re)criar e (re)construir os danos. Serenidade interna
e energia vital para consumo próprio, troca e doação.